Pessoas FADEUP – Entrevista

Marcos Castro foi estudante da Faculdade. Terminou a sua licenciatura no ano de 2008 e o mestrado em Gestão Desportiva em 2010. Tem 34 anos, é natural de Gondomar, e é atualmente Diretor de Marketing e Comunicação do RFM SOMNII, CEO da Willba Agency, CMO do Braver Media Group e Docente no Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM).

1.O Marcos foi estudante de licenciatura e mestrado na FADEUP mas tem um percurso pouco habitual em pessoas com formação nesta área. Quer-nos falar um pouco desse percurso? O que fez após terminar a sua formação na Faculdade?

Ao longo dos últimos anos já desenvolvi projetos com federações desportivas internacionais, comités olímpicos nacionais, universidades, clubes, atletas, eventos, marcas e agências, ajudando na implementação de campanhas para milhões de pessoas. Logo após terminar a formação na FADEUP fiz, em 2010, a Pós-graduação em Marketing Digital do IPAM, na altura a 2ª edição no país e a 1ª no Porto, sendo hoje, curiosamente e há já cerca de 4 anos, docente da mesma, seguido por um conjunto de formações nas áreas de liderança, coaching, desenvolvimento de equipas de alta performance, além das formações nas áreas de marketing digital e desportiva, gestão e comunicação, quer em Portugal, quer em Barcelona e em Londres.

Em termos macro e de forma muito resumida, estive:

  • 6 anos na Federação Portuguesa de Hóquei (com passagem pela Federação Europeia durante 4 anos), uma autêntica escola para a vida onde fiz de tudo;
  • Cerca de 4 anos na Prozis, onde fui responsável e criamos do zero a unidade de negócio de Futebol, e que pelo meu contexto de atuação e reporting pude crescer significativamente em temas como o empreendedorismo e desenvolvimento de negócio em 4 continentes;
  • Dei palestras e formação nas áreas de marketing de eventos/digital/desportivo, desenvolvimento de negócio, criação de equipas e liderança em 3 continentes;
  • Dei aulas em mais de 5 Faculdades nas mesmas áreas, algumas delas fora de Portugal;
  • Criei, com um parceiro, a primeira formação em Portugal em Gestão do Marketing Digital Desportivo em 2014;
  • Atualmente sou Diretor de Marketing e Comunicação do RFM SOMNII, o maior sunset de Portugal e um dos maiores da Europa, que em 2019 contou com mais de 130 mil pessoas na Praia do Relógio na Figueira da Foz, além de assumir ainda a Direção de Marketing do Braver Media Group e ser o CEO da Willba.Agency, empresa de marketing e comunicação focado em performance e marketing de experiências.

2. Como surge na sua vida este gosto pela área do marketing, da gestão e da comunicação?

Fiz ERASMUS em Madrid, Espanha, no quarto ano da Licenciatura, na altura em que ainda eram de 5 anos, e foi aí que se fez o clique quando tive uma cadeira de marketing e gestão desportivas. O meu pai é Economista e Consultor de Empresas, e desde miúdo que me transmitiu um gosto pelas áreas da gestão e da liderança. No quinto ano, quando vim para Portugal, era necessário, além do estágio na Escola, fazer uma monografia. Ao olhar para os diversos gabinetes e o número de alunos que tinham pensei para mim qual seria o gabinete cujo docente me poderia disponibilizar mais do seu tempo numa ótica de mentoria e, também, novamente, que área de trabalho me poderia dar competências horizontais para isto ser um ponto A, e nunca um ponto B. Foi aqui que conheci o Professor Pedro Sarmento, a quem tenho muito a agradecer. Pela pessoa que é, pela sua liderança e visão. Foi o primeiro que me falou de trabalhar algo relacionado com marketing na Internet. A partir daqui, além da monografia, seguiu-se o Mestrado a trabalhar igualmente o tema da Internet e do respetivo cruzamento com o Marketing e o Desporto.

3. Enquanto estudante da Faculdade já idealizava um percurso como o que tem feito?

De todo. Eu foco-me na otimização dos processos que levam à obtenção de resultados, pelo que me guio por algo que chamo de “performance por unidade de tempo”, ou seja, como é que utilizando processos de auto-modelagem e modelagem consigo isolar as diferenças que fazem a diferença na obtenção de resultados. Tenho uma enorme crença neste processo e por isso genuinamente acredito que nós podemos ser o que quisermos. Dessa forma, não sou alguém que desenvolve expectativas sobre o futuro, antes tento criar oportunidades de acordo com aquilo que sinto ser o mais assertivo no contexto em que me encontrar.

4. Do que sente mais falta dos tempos de Faculdade? Há algo que recorde com particular saudade?

Não sou muito uma pessoa de sentir saudade. As coisas são o que são e o que tento retirar são aprendizagens que possam contribuir para crescer e desenvolver competências. Dou-te três exemplos de metáforas que ficaram até hoje:

  • No Voleibol, na receção ao serviço, deves estar numa posição de equilíbrio instável (apoias no chão apenas o terço anterior do pé) de forma a que rapidamente possas reagir a um imprevisto como, por exemplo, uma súbita mudança de direção da bola. Na vida, as coisas parecem funcionar exatamente da mesma forma. Se te acomodas e colocas o pé todo no chão, perdes velocidade e capacidade de reação, logo, isto ensina-me da importância do direcionamento da nossa energia, uma vez que a nossa energia vai para onde está o nosso foco;
  • Na Ginástica, numa aula com o Professor Manuel Botelho, tive um colega meu que chegou atrasado. Era a primeira aula da manhã, se bem me lembro começava às 08h. O meu colega disse que tinha chegado mais tarde devido ao trânsito ao que Prof. respondeu qualquer coisa como que devíamos antecipar esse tipo de situações de forma a cumprirmos os nossos compromissos. Ou seja, neste caso, o que ele deveria ter feito era sair mais cedo de casa, de forma a que prevenisse um eventual trânsito que pudesse haver. Isto é, para mim, no fundo o que ele estava a dizer é que nós próprios é que somos responsáveis pelos nossos próprios resultados. Não o “trânsito” da nossa vida;
  • No Basquetebol o Professor Fernando Tavares estava sempre a dizer para tratarmos bem a bola. “Doucement” dizia ele. Bem, é o mesmo com as pessoas e as relações, certo?.

5. O que o levou a escolher o Desporto para a sua formação académica?

O meu interesse em começar por enveredar pela área do desporto iniciou-se quando, aos 15 anos, comecei a frequentar um ginásio. Chegada a altura de ir para a Faculdade, e não sabendo ao certo o que queria, tomei a decisão de optar por um curso que, no futuro, me pudesse abrir outras portas, isto é, fosse uma base de formação não apenas em hard skills mas essencialmente em soft skills que me permitissem desenvolver competências nas quais, essas sim, eu acreditava serem as fundamentais para ter sucesso. Competências como a liderança, espírito de sacrifício, superação e muito foco no direcionamento da minha energia. Se queres construir uma carreira de sucesso deves desenvolver mecanismos para, em primeiro lugar, trabalhares a auto-liderança. A juntar a isto sempre gostei de desporto, em particular futebol, pois permite-nos aprender bastante sobre o comportamento do ser humano, bem como sobre a cultura e contextos sociais onde ocorrem, por exemplo, as próprias competições.

6. O Marcos praticou desporto?

Fui praticante de várias modalidades, como futsal, natação, fitness ou ténis de mesa, mas nada de muito sério. Por isso, ir para desporto foi colocar-me numa zona de grande desconforto, onde a superação seria fundamental para conseguir atingir os meus objetivos. Foi o melhor que podia ter feito.

7. Quer deixar um conselho aos nossos estudantes?

Não diria conselhos, talvez algumas sugestões, muito breves, e que naturalmente são baseadas na minha experiência:

  • Nunca optes pelo caminho mais fácil. Já comecei do zero, pelo menos duas vezes. Era funcionário do quadro na primeira vez e tinha contrato efetivo na segunda numa multinacional. É muito duro, e poucos perceberam porque o fiz no momento da saída. Contudo, eu acredito em superação, adoro o desafio. Mar calmo nunca fez bom marinheiro, percebes?;
  • No seguimento da sugestão anterior, tem à tua volta pessoas que verdadeiramente gostam de ti e te apoiam aconteça o que acontecer. São as mesmas que te dizem aquilo que tens de ouvir, e não o que gostarias de ouvir. Ao longo do tempo aprendi que eu sozinho posso ir rápido, mas se for em equipa vou muito mais longe;
  • Erra rápido. Experimenta a alta velocidade, pois não existe falhanço, apenas feedback. Não tenhas medo, segue o teu caminho, independentemente do ruído que eventualmente possa existir à tua volta.

8. O que espera do futuro?

Eu não espero nada do futuro. Contudo, posso dizer-te aquilo que para mim pode eventualmente fazer sentido e que é o mantra de uma das últimas campanhas da Nike: “Não perguntes se os teus sonhos são loucos. Pergunta é se eles são loucos o suficiente”.

FADEUP, Newsletter nr. 24, 14.10.19